15.11.09

Sobre o holocausto, rótulos e a sociedade moderna

Detalhe de um uniforme de um prisioneiro judeu



Dezenas de campos de concentração permeavam o mapa da Europa. Neles, prisioneiros trabalhavam em regime de escravidão, vivam em condições subumanas, tinham sua dignidade arrancada pelas garras do regime nazista. Eram judeus, comunistas, ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais. Oito milhões de pessoas, desde 1933, tiveram suas vidas dilaceradas pela passagem por esses campos.

Naquela época, para o melhor controle dos nazistas sobre seus prisioneiros, o volume de concentrados, a necessidade de transportá-los para trabalhar fora dos campos e sua diversidade fez com que fosse necessária uma forma de identificação do grupo ao qual o prisioneiro pertencia. Concebeu-se um sistema de figuras geométricas de cores diferentes que os classificava de acordo com o motivo pelo qual eles estavam ali.

Judeus tinham em seu uniforme dois triângulos amarelos, formando a estrela de Davi e a palavra “Judeu”. Criminosos comuns usavam um triângulo verde, o que lhes dava privilégio sobre os outros prisioneiros. Os socialistas e outros tipos de inimigos políticos (anarquistas, liberais...) usavam um triângulo vermelho, os testemunhas de Jeová, um roxo, marrom para os ciganos, negro para as lésbicas e rosa para os gays.
Desde então a cor rosa vem sendo associada pejorativamente aos homossexuais. No centro dos triângulos, uma letra identificava a nacionalidade e idioma do prisioneiro. O sistema permitia que um soldado identificasse a distância o perfil de um determinado prisioneiro, e reservar a ele o tratamento que a doutrina nazista julgava adequado.


Detalhe do Uniforme de um Testemunha de Jeová


Os soldados de Hitler, portanto, já faziam uso anos atrás do conceito de rótulos. E lançaram mão deles de modo literal para cometer as mais diversas atrocidades contra a humanidade. Só entre judeus, estima-se que seis milhões tenham sido mortos nos campos de concentração.

Ainda que nos dias de hoje não confinemos as pessoas em campos de trabalho forçado e não as matemos devido a sua origem ou crença religiosa (pelo menos não naquelas proporções), os princípios que usamos para as rotular são os mesmos dos nazistas: por acreditarmos que somos melhores do que os outros, anexamos ‘triângulos’ as suas personalidades e a partir de nossa classificação arbitrária os julgamos e dispensamos a eles tratamentos diversos. É prática comum na sociedade pós-moderna apontar para o diferente, classificá-lo de acordo com o nosso olhar e desse julgamento condená-lo a um lugar específico em nosso convívio, dependendo do nosso juízo de valores.

Não parece hipócrita que apesar de repudiarmos as atrocidades do holocausto, nós façamos uso, hoje em dia, de uma prática usada pelos nazistas simplesmente pelo prazer em julgar a diferença?!



Fábio Couto

0 comentários:

Postar um comentário