20.11.09

Nunca pensei em ser modelo


O primeiro obstáculo que tive que superar para começar a carreira foi superar o próprio preconceito, derivado do rótulo que eu coloquei na palavra “modelos”. Pra mim, eram pessoas impossivelmente belas, mas que não tinham nenhuma preocupação além da aparência. E que a profissão não exigia mais que um rostinho bonito. Como toda generalização, essa era burra. Como várias que eu já tinha vivido antes, de quem estuda na Fafich, de quem faz Comunicação Social, de quem estuda no Colégio Santo Antônio...


Sempre fui magrela e a mais alta da turma (no meu colégio, a gente tinha que fazer fila em ordem de tamanho). Quando chegou a adolescência, eu continuava magrela enquanto as outras meninas encorpavam. Fui à nutricionista buscar uma receita pra engordar. Mesmo tomando dois Milk-shakes cheios de carboidratos por dia, o peso não variava visivelmente. Até mesmo em locais em que a magreza deveria ser valorizada, como nas minhas aulas de dança, isso era motivo pra eu me sentir deslocada. Porque era alta demais e chamava muito a atenção, ficava sempre no fundo do palco.


E mulher tem essa coisa de que falar com a outra sobre a sua gordura é pecado. Com as magras, não existe esse pudor. “Ah, eu quero emagrecer, mas não ficar igual à Gabriela!”. Esse comentário eu ouvi mais de uma vez... E também perguntas sobre eu estar me alimentando bem, mas bem MESMO? Eu sempre comi super bem, a “culpa” da minha magreza era a genética. Minha mãe era magra, meu pai era magro, minhas tias eram magras, minhas avós eram magras e por aí vai.


Procurei uma agência no meio de 2009, por insistência do meu namorado, que adorava me fotografar. Fiz curso de passarela, book e já realizei alguns trabalhos. Não posso afirmar como é o mundo das top models, do qual não faço parte, mas as meninas new faces, como eu, contam histórias semelhantes de tentativas de engordar na adolescência e de roupas que não serviam. Encontrei um meio em que meu tipo físico era valorizado, enfim. E com pessoas das mais diversas, com interesses que vão de peixes a skates. Passando pela preocupação com a aparência, mas de longe não a única. Como em todos os outros setores da vida social...
O trabalho de modelo é sim muito penoso. Podem te chamar a qualquer momento e você tem que aparecer impecável para o cliente. São horas de antecedência para chegar antes de um desfile ou sessão fotográfica. Aqui em Minas Gerais, ainda é necessário tirar um registro no Sindicato de Artistas para quem tem mais de 16 anos. A prova exige comprovação de matrícula ou de conclusão do Ensino Médio. Muitas como eu têm que fazer mil malabarismos para conciliar o trabalho com a faculdade (tem gente da Aquacultura, Nutrição, Administração, Comunicação, Arquitetura, Odontologia...). E é muito importante conhecer o meio em que se está trabalhando, quem são os fotógrafos, cabeleireiros, maquiadores, estilistas e jornalistas de moda. Como em toda profissão.


Apesar de estar com a vida muito mais atarefada agora, a carreira de modelo me fez muito bem. Passei a me preocupar mais com alimentação e prática de esportes, com a saúde do corpo em geral. Porque não basta ser magra. A pele e o cabelo têm que estar bonitos, as bochechas coradas, não pode ficar se expondo ao sol, nem ter olheiras (tá, isso eu ainda não consegui nesse final de semestre)... Eu não acho que quem fica sem se alimentar para emagrecer consiga atingir todos esses requisitos. Por outro lado, o conceito de beleza que era tão caro pra mim (e que me desmotivava a tentar algo na moda antes) é muito volúvel, não cabem ali só as meninas no padrão “clássico”, de carinha de boneca, mas de variados tipos, desde que saibam trabalhar sua expressão corporal de forma a valorizar suas características.
Pode não ser assim para todas as meninas que entram nesse meio. Contudo, minha experiência tem sido muito válida e, sendo eu regra ou exceção, o rótulo “modelo” como eu conhecia não me cabe, sem dúvida.


Gabriela Terenzi - 2º Período de Comunicação Social

*Agradecemos à Gabriela pela participação e colaboração.

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